Claudia Paixão Etchepare
Apaixono-me por Porto Alegre todo início de verão. E me desapaixono ao término do carnaval. Não, não estou falando de folias carnavalescas. Estou falando da baixa densidade demográfica da cidade.
No hiato entre Natal e Carnaval grande parte da população viaja em busca das areias finas, brancas e escaldantes do nosso litoral e de Santa Catarina. Neste período, ao rodar pelas avenidas desimpedidas de Porto Alegre, um belo mosaico de prédios modernos e antigos deslizam suavemente pelo vidro do carro. Ouvimos o som do tamborilar dos paralelepípedos ao passear pelas ruas dos bairros. Árvores frondosas. Novos ângulos de visão. Os espaços se ampliam e tudo que o caos do dia a dia urbano não nos deixa ver se revela. A vida migra para as ruas. Transborda em atrações culturais. Tudo se torna descomplicado. Personagens ilustres como Borges de Medeiros, Luciana de Abreu, José de Alencar e Carlos Gomes nos cumprimentam amigavelmente a cada esquina. Onde se escondem durante o ano?
Os ecléticos tipos da heroica resistência que ficam na cidade têm suas vidas entrecruzadas. Disto já sabia o publicitário Jesus Iglesias que cunhou o termo SAPA - Sociedade Amigos de Porto Alegre na década de 70. Para ser membro, basta acreditar que veranear em POA é a melhor opção e desejar tudo de bom para os veranistas que partem.
Meu caso com Porto Alegre no verão é sério. O pulso desacelera e o meu modo câmera lenta se instala. Tenho vontade de ir ao mercado público e comer bomba de chocolate na confeitaria da Rua da Praia. Caio de amores pelos cães que passeiam nas ruas. Cruzo com conhecidos no super, paro e converso longamente. E tem os vizinhos. Converso com eles também. Ah, faço uma lista dos restaurantes étnicos e degusto seus sabores sentada às suas melhores mesas.
Tudo conspira para o prazer nesta época, salvo o calor sufocante. Entrego- me a ele à beira da piscina em momentos esparsos só para, literalmente, sentir o verão na carne. O resto do tempo, passo no ar-condicionado. Recebo notícias entrecortadas que dão conta das areias da orla lotadas e da profusão de veículos na Freeway e concluo que a baixa densidade demográfica na cidade é fator determinante para a minha felicidade.
Depois do carnaval não detesto Porto Alegre. Somente a excomungo - não raras vezes - e a traio com frequentes escapadas a outras cidades serranas ou costeiras.
Sempre no contra fluxo dos feriados.
E-mail: claudia.paixao.etche@gmail.com
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